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A CULPA QUASE NUNCA É SUA, a co-responsabilidade pode ser

Meu avô sempre dizia que “o público é mais importante que o privado”. Acho que foi o maior ensinamento e talvez o que mais transformou meu jeito de ver a vida, e aquele que eu mais entendo a cada dia que passa. Já inclusive duvidei da sua veracidade, mas tenho percebido mais e mais de que ele pode ser mais poderoso e transformador do que parece.

Minha mãe, com sua visão sistêmica das famílias, me ajudou ainda mais a compreender como é forte a influência da rede que nos cerca, e nos ampara e dá suporte, mas que também nos molda e aprisiona de certa forma.

No meio onde vivo, fazendo o trabalho que faço, falando para e com outras pessoas sinto que estamos tentando nos transformar individualmente para levar uma vida com mais significado, com propósito, com trabalhos interessantes, e de formas mais justas, naturais e sustentáveis. Eu mesmo tenho essa busca e sigo esse caminho há décadas. É uma busca sincera, cheia de amor e talvez a única verdade imutável na minha tão mutável vida.

Mas de um tempo pra cá, me questiono o quanto isso faz alguma diferença. E antes que você responda que claro que faz porque cada um tem que fazer sua parte (que em parte eu concordo muito), eu quero refletir se o trabalho individual, se nossas detox diárias e permanentes estão colocando o problema só na gente como individuo, no nosso corpo, e apenas no nosso corpo. Uma sociedade tão profundamente doente e individualista que está todo mundo tendo que enfrentar problemas maiores na esfera individual.

Individualizamos problemas que pertencem ao conjunto, e que nunca vamos conseguir vencer sozinhos. Estamos ferrados e estamos sozinhos. Esse post não é sobre solidariedade, ela existe sim. É sobre onde realmente está a fonte. E não é no indivíduo.

Pense nas doenças de pulmão, quando grandes corporações de tabaco reinavam absolutas: sabemos agora que obviamente o problema não eram os fumantes, mas a cultura que favorecia e incentivava o fumo. Pessoalmente, e estatisticamente, a doença atingia o corpo de algumas e não de outras, mas eram, no fundo, TODOS culpados por ela.

Pense nos problemas cardíacos. Pense nos cânceres. Pense nas doenças neurológicas. Pense nas doenças mentais. Pense na fome e na miséria.

Embora existam algumas (até boas) formas de evita-los, temos infinitas mais de produzi-los, formas mais sutis, mais perversas e sobre as quais temos quase nenhuma ingerência.

É preciso fazer todo o esforço pessoal possível para melhorar a si próprio, sim, claro que é. Mas é preciso olhar pra fonte deles e entender que ela é maior e partir pra enfrentar em maiores escalas também, proporcionais.

Estrutura fractal elétrica.

A gente trata apenas os sintomas pessoais de doenças sociais. O resultado da forma como estamos organizados, das escolhas em escala maior, sociais, o que está em volta da gente, esse teia em muitos níveis quase nunca é discutido. Somos apenas uma escala pequena do que está acontecendo no todo. (Esse ponto guardo pra falar e extrapolar num outro post sobre fractais, porque foi minha tese de doutorado e se tem alguma coisa que já pensei nessa vida foi sobre isso). E, má notícia, não vamos curar fazendo pequenos detox (embora eles sejam importantes para fortalecer o corpo e a alma), não nos curaremos “curando a si próprios”. Hábitos saudáveis são importantíssimos, sem duvida. Mudanças de hábitos são fundamentais. Mas mudar de escala é bem mais difícil. Demanda uma mudança enorme de paradigmas. Mas começaremos realmente a encontrar um caminho quando entendermos que “o público é mais importante (e eu acrescento, mais forte também) que o privado”.​

O que eu quero dizer com isso, é que às vezes os padrões de beleza precisem mais ser mudados do que produtos novos usados. Padrões e consumo e exigência mais repensados do que o que fazemos pra alcança-los. Às vezes a mudança mais importante depende e é mais forte do que conseguimos fazer sozinhos, nas nossas vidas apenas. Isso vale pra cosméticos e cuidados pessoais e pra mais um monte de outras coisas.

Antes disso, a chance de ser mais uma estatística ruim é bem mais forte que nossos corpos limpos, lindos e sarados.

Era só uma reflexão mesmo...

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