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Micro plásticos: um lixo desnecessário

22 de setembro de 2015. Revista Nature (uma das mais conceituadas revistas científicas no mundo) publicou um artigo no seu editorial chamdo "Em nome da beleza" que nos alerta sobre a alarmante situação do lixo plástico que é jogado no oceano.

Por causa da aproximação do carnaval e o uso indescriminado de purpurina (que também é uma micro-esfera plástica) e dos esfoliantes que estava falando numa aula que dei, resolvi fazer uma tradução deste artigo e colocar aqui, acho que ele já fala por si só.

Realmente eu não tenho o que acrescentar.

Outro estudo publicado aqui também fala sobre isso. E é tão alarmante quanto, mostrando que o problema é infinitamente MAIOR do que o estimado anteriormente.

É apavorante! Traduzi logo depois do primeiro.

Leiam e se apavorem!

Em nome da beleza

Nature 525, 425 (24 September 2015) doi:10.1038/525425a

A verdade feia é que as micro esferas encontradas em muitos esfoliantes e produtos de higiene pessoal são um sério poluente do eco sistema marinho. Eles devem ser banidos imediatamente.

Uma mulher bonita entra em foco. O que faz sua pele brilhar tanto? Porque, diz ela, ela usa "Positively Radiant da Aveenos" um clareador diário de pele para um resultado naturalmente bonito.

O que não está claro neste anúncio é que o "delicado esfoliante" no produto anunciado pela Jennifer Aniston são minúsculas esferas de plástico. Quando Aniston, ou aqueles que a seguem, deixam o esfoliante escorrer no ralo, muitas dessas partículas acabam no mar, onde vão ficar indefinidamente. E isso é desnecessário, perigoso e precisa parar!

Muitos outros concordam que os esfoliantes faciais, assim como centenas de outros produtos, incluindo pastas de dentes, não deveriam durar muito nesse mundo. Em 10 de Setembro, a Camara do estado da Califórnia mandou um projeto de lei para o governador do estado Jerry Brown, que proíbe a inclusão das esferas de polietileno, polipropileno e outros plásticos com menos de 5 milimetros de diâmetro em produtos de higiene pessoal à partir de 2020.

Se essa lei passar, evitará que trilhões de bolinhas de plástico sejam levadas pelo ralo. Nem todas chegam no mar - as unidades de tratamento de água podem filtrar até 90% delas - mas o problema causado pelas milhares que ficaram é considerável. (Enquanto isso, as bolinhas presas na lama das plantas não desaparecerão. Muitas são jogadas nas plantações, e escapam para rios e lagos.)

Num artigo publicado em 3 de Setembro, a pesquisadora de saúde aquatica Chelsea Rochman da Universidade da Califórnia, Davis, e seus colegas estimaram que 8 trilhões de micro esferas são lançadas por dia nos eco sistemas aquáticos só nos Estados Unidos.(C. M. Rochman et al. Environ. Sci. Technol. http://doi.org/7sw; 2015).

As esferas são mais perniciosas do que apenas lixo. Aproximadamente do tamanho de muitas espécies de planktons, elas são comidas por criaturas marinhas. Outro estudo de 2014 observou que elas foram consumidas por zooplanktons, incluindo alguns camarões mysid, copépodos, rotiferos e ciliados (O. Setälä et al. Environ. Pollut. 185, 77–83; 2014). Algumas também são comidas por criaturas maiores, e os tóxicos nos plásticos além de outros químicos tóxicos que aderem aos plásticos, acumulam nos peixes - que acabam na nossa mesa de jantar.

A Califórnia não é o único lugar onde um lei banirá micro-esferas, mas como a sétima ou oitava maior economia mundial, essa atitude pode ter peso. Assim como na eficiência de combustíveis automotivos e na regulação de flabamilidade de móveis, onde a Califórnia vai, outros lugares nos Estados Unidos e no mundo seguem. O projeto de lei californiano é também mais forte que outros anteriores. Ele não inclui uma brecha permitindo o uso de esferas "biodegradáveis" - o que são improváveis de realmente se desfazer a não ser na composteira industrial.

Os legiladores californianos fizeram a coisa certa mas o período de transição é muito longo. Nenhuma tez brilhante vale a compra por atacado da poluíção dos oceanos da Terra. A gigante Unilever diz que já retirou as micro-esferas de todos os seus esfoliantes e prdutos de limpeza. Há uma quantidade enorme de esfoliantes alternativos e bem testados, que incluem cascas de castanhas, argila, açucar. Então pra que 5 anos para parar de poluir?

Enquanto proíbições e transições vão fazendo efeito lentamente, a campanha "Beat the Microbead" fundada pelas ONGs "Plastic Soup Foundation" e "North Sea Foundation" criou um app para consumidores que querem evitar o problema. Com alguns clicks eles podem confirmar se aquele esfoliante tentador na prateleira da farmácia contém ou não micro-esferas. Isto ajuda por pouco tempo, mas no final ainda o onus da responsabilidade fica na mão do consumidor.

As micro-esferas não são a única fonte de micro-plásticos no oceano. Pequenas bolinhas usadas para fazer plásticos são jogadas no mar, sacolas e garrafas plásticas vão se quebrando com o tempo. Em quase todas as praias no planeta Terra a areia contém minúsculos e brilhantes grãos de plástico.

E macro-plásticos continuam sendo um problema. Um estudo publicado no mês passado estima que 90% das aves marinhas tinham plásticos nas suas biles (C. Wilcox et al. Proc. Natl Acad. Sci. USA http://doi.org/7dv; 2015). Alguns pássaros confundem sacolas plásticas com águas-vivas. outros confundem esqueiros e tampas de caneta com presas e alimentam suas crias com elas.

A consequência da onipresença de plástico nas espécies marinhas, nos ecosistemas e na saúde humana seguem sendo áreas de pesquisa ativas e importantes. Mas o público e os políticos e líderes não devem esperar resultados detalhados para agirem. Proibir micro-esferas não nos salvará do problema da poluíção plástica, mas já é uma boa forma de começar. Jennifer Aniston e os milhões de pessoas que lavam seus rostos com plástico podem ainda ficar radiantes sem que seu regime de cuidado da pele alimente os copépodes. Ou a alternativa será sempre ficar "vermelhinho" de vergonha.

A global inventory of small floating plastic debris

Environmental Research Letters, Volume 10, Number 12

Detritos de micro-plásticos flutuam na superfície do oceano e podem ser muito perigosos para a vida marinha. Procurar entender a severidade desse alerta requer conhecimentos da distribuíção e abundância dese plástico. Duzias de expedições medindo a concentração de micro-plásticos tem sido levadas a cabo desde os anos de 1970, focando principalmente nos oceanos Atlântico Norte e Pacífico Norte, com cobertura muito menor em outras áreas.

Neste artigo, usa-se uma base de dados enorme de medidas de micro-plásticos para chegar a confiança que podemos ter nas estimativas globais da quantidade de micro-plástico e sua massa. Usamos aqui um rigoroso protocolo estatistico para padronizar os dados de detritos plásticos no mar medidos usando arrasto de superfície de redes de planktons e acoplando com três diferentes modelos de circulação oceânica para interpolar espacialmente essas observações.

Nossa estmativa mostra que o número acumulado de partículas de micro-plástico em 2014 estão no intervalo entre 15 a 51 trilhões de particulas, pesando 93 e 236 mil toneladas, o que é aproximadamente 1% do lixo global de plástico estimado a ter entrado no mar no ano de 2010. Essas estimativas são muito maiores que as anteriores globais, mas variam muito com a falta de dados na maior parte do mundo, diferença nos modelos, e pouco conhecimento das fontes, transformações e destino dos micro-plásticos no oceano.

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